Insônia
Acordei no meio da noite. Crise de angústia na
menopausa é uma coisa que não desejo pra ninguém. De repente, tudo na vida da
gente vai dar errado: as pessoas que amamos vão morrer, a gente vai ficar
doente, a velhice chegará solitária e triste. Vêm também à cabeça as cenas que
estão acontecendo em muitos lugares naquela mesma hora: pessoas com muita dor,
deitadas em uma cama de hospital; idosos nos asilos, maltratados e famintos;
crianças morrendo de medo dentro dos orfanatos; presidiários sem ter onde se
deitar ou sendo estuprados na prisão. O pior quadro de qualquer história, com
vários personagens, isso é o que povoa a mente durante estas horas de puro
descontrole hormonal.
Falo pra mim mesma: isso é um evento
bioquímico. Amanhã de manhã, não vou pensar ou sentir estas coisas. Não
adianta. Os temores noturnos continuam com uma torturante crueldade.
Minha mão, acidentalmente, toca a mão ao meu
lado. Ele dorme o sono inocente do homem selvagem. Capinou, cuidou dos bichos, ajudou a
construir uma casa, cozinhou, comeu, e agora dorme pesado, sem nenhum
questionamento existencial. Como invejo esse sono!
Ele acorda e me faz carinho. Percebe que estou
soluçando de tanto chorar. Põe a mão sobre o meu braço e me pergunta o que
houve. Ele sabe que a angústia me atacou outra vez. Tenta conversar um pouco,
mas é vencido pelo sono. Mesmo assim, deixa generosamente a mão sobre a minha
mão.
Como se fosse mágica, os sentimentos estranhos
e aterrorizantes vão esmaecendo no meio da madrugada. O galo canta, mas ainda
está tudo escuro lá fora.
Volto a dormir. Chego até a sonhar. Já é hora
de acordar e voltar à vida. As olheiras denunciam a noite mal dormida. Se
alguém tentar me comprar, vou ter que voltar dinheiro porque não estou valendo
nada.
Há apenas o consolo de que, durante o dia, a
vida acontece de forma um pouco mais disfarçada. O mal fica despercebido. Na rotina, quase ninguém se lembra de que vai
morrer. Pois vai.