Para Onde Iremos Nós?
Há dias em que a gente fica pensando na
fragilidade da existência humana na Terra. A mulher exuberante, linda e alegre
que trabalhou comigo por alguns anos, postou fotos de situações em que estava
feliz, passando dias na praia e 15 dias depois havia morrido por causa de um
AVC. A doce amiga que faltou à reunião anual das amigas de juventude porque estava
febril, piorou e na outra semana, estava na UTI de um hospital por causa de uma
infecção generalizada. Notícias assim mexem com alguma coisa muito séria, lá
dentro de mim.
Deu caruncho no arroz e eu e meu marido fomos
catar os bichinhos. Eles pareciam estar gostando do ambiente farto, espaçoso e
tranquilo dos pequenos e brancos grãos de arroz até que, de repente, a gente os
afogava, catava e jogava fora.
Fiquei observando o destino dos carunchos e de
certa forma, me identifiquei com eles. Estamos felizes, distraídos, fartos. Em
poucos segundos, nossa vida muda e a surpresa pode até mesmo ser a morte. Carunchos
insignificantes, moscas perturbadoras, cachorros de rua e seres humanos têm o
mesmo destino final.
Acho que é por isso que, enquanto fico mais
velha, vou perdendo a paciência com os jovens. Lá dentro do meu coração, aparece uma indignação quando vejo o quanto de vida eles desperdiçam em bobagens,
vivendo displicentemente seu dia a dia, da mesma maneira como as pessoas fazem com quase tudo
que se desperdiça no mundo, desde a água até o tempo.
Fico impaciente também com os velhos porque
sabem que a vida acaba, ou melhor, que já está quase acabando, e mesmo assim ficam
perdendo um tempão preocupados com doenças, exames, o que faz mal e o que não
faz mal.
Tenho também muita preguiça em relação a
assuntos que as mulheres conversam diante de comida: “Vai engordar”!; “Isso é diet”? ; “Só um pedacinho porque estou
de dieta.” Ah! Como isso me cansa! A única imagem que me vem à mente é a de
alguém impossibilitado de comer, cheio de tubos enfiados pela boca, sonhando
talvez em ter um momento especial como o de poder comer um doce gostoso, daqueles
que engordam bastante.
Perder a paciência é um defeito que vem com
o envelhecimento. Perder é uma prática que vem com o ato de existir. Vamos
perdendo jeito, coisas e pessoas importantes ao longo da vida. Ganhamos também
outras tantas para perder depois. Ninguém escapa de perder e de, no momento final,
tornar-se uma perda na vida de outros também.
Em dias assim, fico grata por ter encravados no
coração alguns textos bíblicos que fazem parte do meu repertório de fé desde
criança. Lembro-me de Jesus perguntando aos seus discípulos se eles queriam
deixá-lo e da resposta que eles Lhe deram: “Para onde iremos nós, se só Tu tens
as palavras de vida eterna”?
Para onde iria eu em um dia como hoje? Não sei.
Meu coração se aquieta quando se aproxima desta certeza: só Tu tens palavras de
vida eterna.