O Petróleo é Nosso!
Desde criança, me acostumei a ouvir a frase: o
petróleo é nosso! Uma vez, na quinta série, cheguei até a fazer um cartaz para
um trabalho de Geografia com esse título. Agora, vendo tudo que está
acontecendo no país, comecei a ter um sentimento estranho, me achando ignorante
demais para entender tais assuntos.
Não tenho formação em Economia e sou uma pessoa
bem básica, mulher de meia idade, morando na roça, professora da rede pública e
dona de casa. Será que sou a única pessoa que tem dificuldade para entender o
que está acontecendo? Talvez, se eu questionar, alguém consiga me explicar.
Aqui na roça, plantamos tangerina. A terra é
nossa. Compramos as mudas, formamos o pomar e nessa época, colhemos, trazemos
pra casa, damos para os filhos, para os amigos, e se eventualmente as vendemos,
nunca vamos ao supermercado comprar nossas tangerinas. As tangerinas são nossas.
Dispomos delas no nosso quintal.
Com a greve dos caminhoneiros, percebi que o
problema de todos nós é o preço alto que é pago pelo combustível. Só que a
lógica que eu uso na minha roça de tangerinas não funciona com o combustível.
As reservas de petróleo são nossas. Estão em território brasileiro. A empresa
que explora estas reservas é nossa, a Petrobrás, uma empresa formada com o
nosso dinheiro. A tecnologia de exploração também é nossa. Mas o preço mais
alto que é pago pelo combustível também acaba sendo nosso. Por quê?
As pessoas explicam que os impostos são
responsáveis por grande parte desse preço alto dos combustíveis. O imposto mais
caro do mundo também é nosso. Aí, tem greve de caminhoneiros por causa dos
altos preços dos combustíveis e o governo explica que vai baixar o preço do
Diesel, mas que terá de pagar à Petrobrás por isso, tirando dinheiro do
orçamento já minguado e comprometido, impossibilitando melhores serviços à
população, aumentando impostos sobre a folha de pagamento das empresas,
inviabilizando mais produção, mais emprego e mais bem estar social. Tudo isso,
mas o petróleo é nosso. Não dá pra entender.
Gosto de assistir novelas. Na novela das 9 que
terminou, havia um bordel , o Love Chic. Havia lá uma prostituta que transava
com o segurança do bordel sem cobrar nada. Ela trabalhava a noite toda e depois
ia pra cama de graça com o amante. Ela dizia para as outras: esse homem é meu! O
cara pedia a ela que comprasse coisas pra ele e ela trabalhava ainda mais pra
poder bancar os presentes que ele havia pedido. Um dia, ele pediu um terno bem
caro. Ela se esforçou mais, trabalhou mais, foi lá e comprou o terno pra ele.
Este foi o terno que ele usou para casar com uma filha de fazendeiro e deixar a
pobre da prostituta no bordel a ver navios.
Às vezes, acho a situação desta moça bem parecida
com a condição do povo brasileiro. Por sinal, bordéis estão em alta como temas
das novelas. Talvez, isso aconteça porque a música do Cazuza fica tocando o
tempo todo no nosso inconsciente coletivo: “transformam o país inteiro num puteiro,
porque assim se ganha mais dinheiro”. Gritamos para todo mundo que o petróleo é
nosso, mas pagamos muito caro por ele, pagamos mais impostos por causa dele,
trabalhamos muito pra bancar o que ele nos oferece, mas ele foge com os
investidores estrangeiros, levando tudo que lhe demos com tanto sacrifício.
Talvez, eu não esteja entendendo bem o que está
acontecendo. Talvez, minha maneira simplória de ver as coisas me deixe
incapacitada para julgar as implicações da composição de preços dos
combustíveis. Só sei que os resultados de tudo isso não me agradam. A vida
nesse bordel está ficando a cada dia, mais sacrificada para todos nós.
Por isso, algumas perguntas não saem da minha
mente: O petróleo é nosso? Nosso? De quem? O petróleo é uma riqueza do Brasil?
Riqueza? De quem? Com meu jeito simples de observar as coisas, cheguei a uma
conclusão nada racional: o petróleo é do diabo!