terça-feira, 26 de agosto de 2014

A Foto

Já faz algum tempo, troquei a foto do blog e publiquei, dizendo que a foto era NOVA. Quando eu disse NOVA, queria dizer: Nova foto do blog. Eu não quis dizer RECENTE.
Para minha surpresa, muita gente começou a postar comentários elogiando a foto, dizendo que eu estava muito bem, que parecia que o tempo não havia passado para mim. Algumas amigas queriam até saber o nome do meu tratamento anti-idade.
Eu achei que estava claro para todo mundo que a foto não era recente. Fiquei constrangida com a generosidade do julgamento de meus amigos. A foto havia sido tirada há mais de 10 anos, quando eu ainda trabalhava na editora. A gente precisava de uma foto profissional para o site e a empresa contratou uma fotógrafa para fazer o trabalho.
Realmente, a foto ficou muito boa. Eu resolvi usá-la no blog porque ela possuía um detalhe muito especial para mim.
Preciso dizer isso. Não tenho mais aquele rosto, aquele cabelo, aquela pele. Envelheci sob todos os aspectos. Tenho mais manchas no rosto, como se fossem ferrugem. Tenho os olhos mais fundos e meu cabelo já está bem grisalho. Nunca poderia sonhar que as pessoas julgassem que minha aparência atual fosse a mesma desta foto.
O detalhe ao qual me prendi, não tem nada a ver com minha aparência. Na verdade, amo essa foto por alguma coisa que a gente pode ou não pode perder com o passar do tempo: o brilho nos olhos.
Não sei se foi intencionalmente, mas a fotógrafa deixou meus olhos com estrelas dentro deles. Esse detalhe me cativou. Essa é minha grande ambição: estrelas dentro dos olhos, mesmo que o tempo passe e que tudo mais fique enferrujado.
Pensei em retirar a foto do blog, mas decidi deixá-la por mais um tempo. Tratei a imagem com um tom envelhecido para que não pairem mais dúvidas. Para os benevolentes amigos que acham que este é meu rosto recente, eu aviso: não sou mais assim. Há um intervalo de mais de 10 anos entre o momento da foto e meu momento atual. Há muitos efeitos naturais do tempo sobre minha aparência. Há muitos e bons efeitos da experiência sobre minha forma de agir e ver o mundo. Mas a foto está aí porque há também um desejo enorme no meu coração: estrelas nos olhos.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Abóbora
 
Passei um tempão pensando
e acabei de decidir.
A palavra que eu mais gosto é: 
ABÓBORA 
Gosto de falar e ouvir.
Quando falo, encho a boca
e deixo explodir o ‘bó’. 
Quando brinco de cantar ópera,
fico cantando: 
‘ABÓBORA, ABÓBORA!’, 
e acho muito engraçado. 
Quando brigo de não escutar,
fico de ouvido tapado e falo: 
“ABÓBORABÓBORABÓBORABÓBORABÓBORABÓBORABÓBORA’ 
sem parar.
 
ABÓBORA também pode virar
coisas que a gente inventa.
Pode virar panela,
a cabeça de um boneco,
a carruagem da Cinderela. 

ABÓBORA é tão importante
que tem até cor com seu nome.
Tudo que é cor de abóbora
dá vontade de comer:
fruta madura no pé,
cenoura, quibebe, bobó,
e o doce com cravo e canela
na casa da minha avó. 

Até a hora do dia que eu acho que é mais bonita
é quando o sol vai descendo, lá longe, perto do mar.
Ele vai ficando ABÓBORA, abóbora...
Depois ele vai embora, embora...  
Mas de manhã, ele volta, subindo lá do outro lado.

Uma ABÓBORA bem grande, cheia de brilho dourado.